Vida de Santa Maria do Egito, a Penitente.

30 08 2015

Por Sofrônio

Prólogo. Capítulo 1. Capítulo 2. Capítulo 3. Capítulo 4. Capítulo 5. Capítulo 6. Capítulo 7. Capítulo 8. Capítulo 9. Capítulo 10. Capítulo 11.

Prólogo

É algo louvável esconder o segredo dos Reis; mas há glória em publicar as obras de Deus, como diz o Anjo a Tobias, quando este recobra de maneira miraculosa a visão – tendo passado por tantos perigos goza então, dos efeitos do amor e da ajuda de Deus. É bastante perigoso descobrir os segredos dos príncipes e, contrariamente, causa muito prejuízo à alma calar-se sobre as ações ilustres, que Deus faz em favor dos homens pelo excesso de Sua bondade e de Sua misericórdia. É portanto temerário encobrir com o silêncio as maravilhas divinas, por um justo julgamento. Seria cair na mesma condenação daquele servo inútil que ao invés de aproveitar do talento recebido escondeu-o na terra. Eu não sepultaria nas trevas uma história tão santa quanto esta que chegou ao meu conhecimento. E não é preciso sequer acrescentar fé ao que vou escrever, considerando-se o espanto, que ações tão extraordinárias causarão. Deus me proteja de ser mentiroso em assuntos santos, e de violar a verdade daquilo que concerne a Sua glória; não tomarei parte no perigo que correm aqueles, que não compreendem senão as coisas baixas, e julgando indignamente a grandeza de um Deus que Se fez homem, não acrescentarão nada de fé a este discurso. E há pessoas que depois de o terem lido, recusam-se a lhe dar o crédito e a admiração que merece uma história tão miraculosa. Suplico a Deus que tenha piedade delas e abra-lhes o espírito, a fim que elas escutem Sua Santa palavra, e que não se tornem culpadas pelo desprezo, de tantos milagres que Ele decidiu fazer em toda a eternidade a favor de Seus Eleitos; assim elas agem considerando a fraqueza da natureza humana, julgando impossível tudo o que lhes é contado sobre as ações extraordinárias dos Santos.

Eu vou então começar esta narrativa, onde escreverei palavra por palavra segundo aquilo que se sabe ter acontecido e que me foi reportado por um homem santo, alimentado pela ciência e pela prática das coisas divinas. E, que ninguém se deixe tomar pela incredulidade, como se fosse impossível que tão grande milagre acontecesse hoje em dia, visto que a graça de Deus – que século a seculo circula na alma dos santos – torna-os Seus amigos e faz Profetas; assim como Salomão nos ensina através do conhecimento que Ele lhe deu. Mas não se deve separar o relato deste grande e generoso combate de Maria do Egito, do modo com que ela terminou seus dias na terra.

Capítulo 1

O abade Zózimo – que era um Solitário de grande virtude – tendo sido tentado por pensamentos de vaidade, apresenta-se-lhe um homem que lhe diz para ir a um mosteiro perto do Jordão onde ele mesmo fora recebido.

Havia num mosteiro da Palestina um homem chamado Zózimo que, tendo sido desde a sua infância instruído com grande zelo nos exercícios da vida solitária e educado santamente, fazia brilhar em suas palavras e em suas ações uma verdadeira piedade. Entretanto, não imaginem que eu queira aqui falar daquele Zózimo acusado de ensinar erros no que concerne a crença; os nomes são os mesmos. Este de quem falo, ficou primeiramente em um mosteiro da Palestina e passando por todos os exercícios da vida solitária, tornou-se muito recomendado pela pureza de seus hábitos e o seu fervor na penitência; pois observava inviolavelmente todas as instruções que lhe davam aqueles que desde a juventude haviam sido alimentados deste santo modo, de forma a mantê-lo capaz de suportar os combates que se lhes apresentavam na prática exata das regras e, não bastando, acrescentou ainda muito de si, pelo desejo que trazia de sujeitar a carne ao espírito. Assim, jamais percebeu-se uma pequena falta na menor das coisas e ele realizava tão perfeitamente tudo o que se esperava de um solitário, que se via com freqüência muitos outros, tanto das redondezas quanto das províncias distantes, virem até ele e, por suas instruções e seus exemplos, portarem-se com mais ardor do que antes, nos outros santos exercícios da penitência.

Tendo tantas qualidades excelentes, meditava sem cessar sobre as Santas Escrituras, pois, quer estivesse deitado para um pequeno repouso, quer estivesse levantado, quer trabalhasse com as mãos ou comesse, seu espírito ocupava-se sempre deste objetivo que se lhe tornara tão familiar e nunca interrompida a obra de recitar os Salmos e de meditar sobre as Sagradas Escrituras. Assim, tornado-se digno de ter seu espírito esclarecido por Deus, aqueles que viviam com ele asseguravam que freqüentemente era favorecido com visões; o que não é nem estranho nem incrível, pois nosso Senhor Jesus Cristo diz: “Bem-aventurados os puros de coração, pois verão a Deus;” com mais razão ainda àqueles que purificaram a sua carne, que sempre permaneceram em abstinência e cujo espírito jamais adormece no caminho da piedade; esses podem ter os olhos iluminados pelas luzes divinas, como marca da felicidade que os espera na outra vida, onde O verão em toda a Sua majestade e glória.

Zózimo dizia que estava naquele mosteiro praticamente desde ter deixado o seio materno, onde viveu até os 53 anos na observância das regras da vida solitária, e um dia, vendo-se tentado por alguns pensamentos que lhe faziam crer ser perfeito, em todas as instruções de quem quer que fosse, dizia consigo: “Há algum Solitário no mundo que possa ensinar-me algo de novo, ou mostrar-me algo que eu ainda não tenha realizado por minhas próprias ações, nesta santa maneira de viver? Haverá alguém que me ultrapasse”?

Como ele se entretinha com estes pensamentos e alguns outros parecidos, apresentou-se um homem diante dele que lhe disse: “Zózimo, é verdade que combateste generosamente e tanto quanto um homem poderia fazer. É verdade que correste bastante na carreira da vida solitária. Mas não há nenhum homem que possa se vangloriar de ser perfeito, sobretudo porque tu não sabes ainda que o presente combate é mais difícil de suportar do que os passados, e a fim de que conheças que há muitas outras vias para chegar à Salvação, sai de teu país, sai do meio dos teus próximos, sai da casa de teu pai como o grande patriarca Abraão, e vai-te ao mosteiro que fica ao longo do Jordão .”

Seguindo aquilo que lhe havia sido recomendado, Zózimo saiu do mosteiro onde havia sido alimentado desde a sua infância, e tendo chegado à beira do Jordão – o mais santo de todos os rios – foi conduzido pelo mesmo homem ao mosteiro, onde Deus lhe ordenara ir. Tendo batido à porta e falado com o porteiro, este irmão foi dizer ao abade o qual veio recebê-lo, reconhecendo por seu hábito e por sua continência tratar-se de um Solitário. Depois que Zózimo pôs-se de joelhos conforme o costume dos Solitários e que pediu a sua bênção, o abade lhe disse: “De onde vens, meu irmão? E que assunto te traz até os pobres Solitários?” Zózimo respondeu: “Meu pai, não estimo ser necessário dizer-vos de onde venho, e penso que é suficiente que saibais, que o que me traz é o desejo de encontrar aqui temas de edificação, pois soube coisas tão vantajosas deste mosteiro e tão dignas de elogio, que são capazes de levar os homens a unirem-se a Deus.” O abade retorquiu: “Meu irmão, que Deus, o único que pode curar as enfermidades da alma, queira por Sua graça instruir-te e a nós também com Seus mandamentos e conduzir nossos passos para caminharmos nos santos caminhos; pois não há homem algum que seja capaz de fazer outros, avançarem na virtude. É preciso que cada um vele cuidadosamente sobre si mesmo e, sem elevar alto demais seus pensamentos, faça o que lhe for mais vantajoso para chegar à perfeição; Deus cooperando com ele. Todavia, já que dizes que a caridade de Jesus Cristo te traz aqui para ver os pobres solitários, podes permanecer conosco se é este o teu desejo; e o Bom Pastor, que deu a vida para nossa salvação e que chama as suas ovelhas cada uma por seu nome, nos alimentará pela graça de Seu Espírito Santo.” Tendo o abade concluído suas palavras, Zózimo ajoelhou-se ainda e após ter recebido a benção, respondeu: “Assim seja” e ficou no mosteiro.

Capítulo 2

Sobre a perfeição em que se vivia neste mosteiro, onde os Solitários passavam quase toda a quaresma no deserto.

Ele viu lá, anciãos de rostos veneráveis, admiráveis em suas ações, fervorosos em espírito, e que serviam a Deus sem qualquer interrupção. Não havia hora durante a noite em que não se cantasse os salmos, e durante o dia eles estavam sempre em suas bocas, enquanto trabalhavam incessantemente com as mãos. Não se sabia o que eram cuidados inúteis. Não tinham o menor pensamento sobre o bem nem sobre outras coisas temporais, e apenas conheciam-lhes os nomes; mas empregavam todo o ano considerando o NADA desta vida, que não é senão, uma passagem cheia de dores e misérias e meditando sobre coisas semelhantes. Uma coisa somente parecia-lhes importante e trabalhavam com todo o ardor para adquiri-la: estarem mortos para o século, ao qual haviam renunciado quando deixaram o mundo e todas as coisas que dependiam dele. Vivendo assim, como se não vivessem mais, alimentavam o espírito com uma carne que não lhes faltava nunca, a Palavra de Deus, e o seu corpo com pão e água somente, a fim de terem mais motivo para esperar a misericórdia de seu Mestre. Como contou depois, Zózimo foi bastante edificado por esta maneira de viver, e excitava-se com os exemplos para avançar na perfeição, encontrando pessoas que trabalhavam tão poderosamente com ele para adquirí-la, e mostravam com tanta alegria um novo Paraíso na terra.

Poucos dias depois, chegou o tempo recomendado aos cristãos pela tradição da igreja, para celebrarem o santo jejum da Quaresma e para purificarem as almas a fim de se tornarem dignos de verem os dias da morte e da ressurreição de nosso Salvador. Ora, estes Solitários faziam todas as suas funções sem serem jamais perturbados, pois não se abria nunca a porta principal da casa, devido ser este um lugar de solidão que não somente não era freqüentado, como também não era conhecido pela maior parte dos vizinhos; e esta regra era observada desde o estabelecimento do mosteiro, o que me faz crer que foi por esta razão que Deus enviou Zózimo para lá.

Quero reportar aqui a ordem que observavam estes Solitários. No primeiro domingo de quaresma celebravam-se os divinos mistérios segundo o costume, e cada um recebia o corpo e sangue precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo, que dá a vida aos homens. Em seguida, depois de terem comido um pouco como de hábito, eles se reuniam no Oratório, onde, tendo feito a oração de joelhos, davam-se uns aos outros o santo beijo, e ajoelhando-se, beijavam seu abade e pediam-lhe a bênção, a fim de serem assistidos por suas orações no combate que iriam empreender. Abriam-se em seguida todas as portas do mosteiro, e, cantando todos a uma só voz o Salmo: “O Senhor é a minha luz e a minha salvação, a quem temerei? O Senhor é a minha proteção, quem será capaz de me assustar?” eles saíam deixando um ou dois irmãos no mosteiro; não para guardarem o que lá ficava, pois não tinham nada que fosse bom para os ladrões, mas para não deixarem que o Oratório ficasse sem alguém que cantasse os louvores a Deus. Cada um levava consigo o que precisava para viver conforme suas necessidades; uns levavam figos, outros damascos, outros legumes molhados com água, e haviam os que não levavam nada, senão seus corpos e seus hábitos, comendo apenas ervas que crescem no deserto, quando pressionados pela fome. Cada um, era regra para si próprio e era uma lei inviolavelmente observada entre eles, não revelarem em que abstinência haviam vivido durante aquele tempo. Para isso passavam o Jordão e afastavam-se bastante uns dos outros; tinham a solidão por companhia. E, se viam ao longe vir em sua direção um irmão, desviavam-se de seu caminho e iam para outro lado, vivendo somente para Deus e sozinhos, cantando frequentemente os Salmos, e não comendo, senão em determinados momentos. Após haverem jejuado, voltavam ao mosteiro antes do dia da Gloriosa Ressurreição de Jesus Cristo nosso Salvador, que é a vida de nossas almas, e, no domingo em que a Santa Igreja celebra com ramos, eles estavam todos de volta. Cada um trazia de volta consigo o testemunho de sua própria consciência, sobre como havia trabalhado durante o retiro, e as sementes que havia lançado em sua alma, de maneira a torná-la forte e generosa para empreender novos trabalhos para o serviço de Deus; e não se perguntavam jamais uns aos outros, como já vos disse, como tinham vivido durante esse tempo de separação e de solidão.

Eis a regra daquela casa, observada perfeitamente, e a maneira pela qual cada um daqueles Solitários unia-se a Deus no deserto e combatia contra si mesmo, de maneira a tornar-se agradável a Deus somente, e não aos homens, sabendo que todas as coisas feitas por amor aos homens e com o desejo de agradá-los, mais prejudicam do que servem, àqueles que as executam.

Capítulo 3

Zózimo, tendo ido durante a quaresma para o deserto com os outros Solitários, percebe a figura de uma criatura humana, que fugia à sua presença, e segue-a até um lugar cortado por uma torrente

Segundo o costume deste mosteiro, Zózimo passa o Jordão, levando somente seu hábito e alguma coisa para viver. Assim, ele observava a regra e atravessando aquela solidão, não comia senão quando a necessidade a isso o obrigava. Deitava-se na terra, onde o surpreendesse a noite, para repousar e dormir um pouco; e tão logo as primeiras luzes do dia apareciam, apressava-se a caminhar tendo continuamente no espírito; como contou mais tarde; o desejo de entrar mais adiante neste Deserto, com a esperança de aí encontrar algum bom pai, de quem pudesse aprender alguma coisa; e, sem cessar avançava ao acaso, como se estivesse em direção à alguém que lhe fosse conhecido. Depois de ter caminhado durante vinte dias, tendo chegada a hora das Sextas, parou um pouco, e voltando-se para o Oriente fez sua prece normal, pois havia se acostumado a parar em certas horas do dia e a cantar os Salmos de pé e a fazer ajoelhado as orações.

Quando então cantava os Salmos, e com olhar fixo mantinha os olhos elevados para o Céu, viu em sua mão direita algo como a sombra de um corpo humano, o que o encheu primeiramente de espanto e medo, por crer tratar-se de uma ilusão do diabo; mas tendo-se armado com o Sinal da Cruz e tendo perdido toda a apreensão e chegado ao fim das orações, viu, ao voltar os olhos, alguém que de fato andava na direção do Ocidente. Ora, aquilo que via era uma mulher, cujo corpo o ardor do sol havia tornado extremamente negro e cujos cabelos eram brancos como a lã, mas tão curtos que iam somente até o pescoço.

Vendo isto, que acabo de relatar, e regozijando-se na esperança de receber o consolo que esperava, Zózimo correu com todas as suas forças ao lugar, onde aquilo que lhe aparecia apressava-se em ir, pois sua alegria era muito grande; porque durante todo o tempo que havia caminhado no deserto, não havia visto nenhuma forma nem de homem, nem de bestas selvagens, nem de pássaros, nem de quaisquer animais, o que aumentava seu desejo de saber o que é que lhe aparecia; esperando tirar grande lucro disso. Ela porém, vendo Zózimo seguí-la, fugiu em direção ao fundo do deserto. Esquecendo a fraqueza de sua idade e não considerando o trabalho que lhe daria o caminho, ele correu em grande velocidade, pelo desejo que tinha de ver mais perto, aquilo que fugia dele; e assim correndo mais veloz que ela, aproximava-se cada vez mais.

Quando ele estava a uma distância que ela poderia ouvir a sua voz, ele gritou-lhe chorando: “Serva de Deus, porque fugis deste pecador e pobre velho? Quem quer que sejais, conjuro-vos pelo Deus, pelo amor de quem passais vossa vida nesta horrível solidão, a suportar-me; conjuro-vos pela esperança que tendes de ser um dia recompensada de tantos trabalhos. Parai e não recuseis a nossa bênção e nossas orações, àquele que vô-las pede em nome de Deus, que jamais rejeitou ninguém .” Zózimo misturando assim suas conjurações às suas lágrimas, chegaram ambos correndo a certo lugar, onde as águas de uma torrente haviam cruzado, e então aquilo que fugia, desceu e subiu em seguida de outro lado. Zózimo continuava gritando e não podendo passar além, permaneceu aquém da torrente que estava seca, e redobrou de tal maneira seus lamentos e suspiros que se podia escutá-los ainda muito longe.

Capítulo 4

Aquilo que fugia diante de Zózimo para, após ter atravessado a torrente, e diz-lhe que é uma mulher. Passam muito tempo a pedir a benção um ao outro, e depois em oração Zózimo a vê suspensa no ar.

Então aquela pessoa que fugia disse-lhe: “Abade Zózimo, peço-vos em nome de Deus perdoar-me, por não me voltar para falar convosco, pois sou uma mulher e como podeis ver estou nua; mas, se desejais assistir com vossas orações uma pobre pecadora, lançai-me vossa capa para que eu me cubra e possa assim voltar-me para vós e receber a vossa bênção.” Zózimo ficou tomado de um maravilhoso espanto misturado com temor e sentindo-se transportado para fora de si mesmo ao ouvir estas palavras, pois, sendo um homem excelente e que a graça de Deus havia dotado de muita prudência, julgou que aquela mulher não o tendo jamais visto ou ouvido falar dele, não o tivesse chamado por seu nome, sem uma graça particular de Deus. Executou prontamente o que ela havia ordenado, e após haver desabotoado sua capa lançou-a, virando-se de costas. Tendo-a recebido, ela cobriu-se a maior parte do corpo, e assim envolvida voltou-se para Zózimo e lhe disse: “Meu pai, que desígnio trouxe-vos a ver uma pecadora, e o que desejais saber e aprender de mim, para não temer tanto trabalho, quanto tivestes que sofrer para vir até aqui?”

Prostando-se por terra Zózimo pediu-lhe a bênção, como é costume fazer, e ela, prostrando-se por sua vez, pediu-lhe a sua também.

Permaneceram muito tempo assim e por fim ela lhe disse: “Meu pai, cabe a vós dar-me a benção e fazer a oração, visto que sois honrado pelo Presbiterado, e que há tantos anos servindo ao Santo Altar, penetrais pela graça e pela luz que Deus vos dá, nos segredos e mistérios de Jesus Cristo.” Estas palavras aumentaram o temor e a emoção de Zózimo e via-se tremer esse santo ancião e correr o suor em grandes gotas pelo seu rosto. Assim, não tendo mais forças e como se estivesse prestes a dar o último suspiro, ele lhe disse: “Ó mãe espiritual, te conheço o bastante pelo pouco que vi, pois estais toda com Deus e que quase não vives mais na terra; e posso crer que Ele vos concedeu dons muito extraordinários; pois, sem terdes jamais me visto, chamastes-me pelo meu nome; mas visto que na dignidade das funções onde se é chamado, não acontece que tenhamos uma graça igual ao cargo que temos de exercer, e que esta graça se conhece principalmente pelos efeitos maravilhosos que produz nas almas, abençoai-me pelo amor de Deus, e assisti-me com vossas orações, a fim de tornar-me um digno de imitar a vossa virtude.”

Então, compadecendo-se da teimosia do santo ancião, ela diz: “Bendito seja o Senhor que opera a salvação das almas.” Ao que Zózimo respondeu: “Assim seja” e levantaram-se os dois e ela disse-lhe: “Quem, então, vos trouxe até uma pecadora como eu? De todo o modo, já que o Espírito Santo vos conduziu até aqui por Sua graça, a fim de prestar-me alguma assistência à minha fraqueza, dizei-me, suplico-vos, de que maneira se conduzem os cristãos hoje; de que maneira agem os imperadores; e de que maneira o rebanho de Jesus Cristo é agora governado na Santa Igreja?” Zózimo respondeu: “Minha mãe, Deus concedeu às vossas santas orações uma paz, concedida aos fiéis. E não recuseis, suplico-vos em Seu nome, a um bastante indigno Solitário; o consolo que vos peço pelo amor dc Jesus Cristo por todo mundo, e particularmente para este pobre pecador, a fim de que, não tenha feito inutilmente um tão longo e laborioso caminho através desta vasta solidão.” Ela repondeu-lhe: “Meu pai, já vos disse que cabe a vós honrado com o Sacerdócio, orar a todo mundo e por mim também, visto ser uma das funções, às quais a vossa vocação vos obriga; visto que a obediência é uma das coisas que nos são mais recomendadas, farei de bom grado aquilo que me ordenares.”

Concluindo estas palavras, ela se voltou para o oriente e elevando os olhos ao céu e estendendo as mãos, começou a rezar, mexendo somente os lábios e sem que se pudesse ouvir sequer uma de suas palavras. Como mais tarde relatou, Zózimo ficou bastante espantado e, sem dizer nada, baixou o olhar contra a terra, depois vendo que ela continuava longamente em oração, levantou os olhos e viu que ela elevava-se um côvado da terra e que orava assim suspensa no ar; aquilo que tinha Deus por testemunho era muito verdadeiro. Então sentiu-se repleto de uma tão extrema apreensão, empapado de suor jogou-se no chão, sem ousar partir e dizia somente consigo: “Senhor, tem piedade de mim.”

Capítulo 5

Vendo Zózimo aquela mulher suspensa no ar, temeu tratar-se de um demônio. Então ela lhe diz qual havia sido o pensamento dele e ele a conjura, em seguida, a contar-lhe toda a história de sua vida.

Como ele estava neste estado, veio-lhe uma tentação, de que talvez fosse algum espírito maligno fingindo rezar. Então, a mulher voltando-se para ele e reanimando-o, disse-lhe: “Porque, meu pai, vossos pensamentos vos levam a escandalizar-vos a propósito de mim, fazendo-vos crer que não sou senão um espírito e que minha oração não é senão fingimento? Não duvideis de que sou uma mulher e uma pobre pecadora; mas tal como sou, recebi o Batismo, e bem distante de ser um espírito não sou senão pó e cinza, senão carne, e não tenho ao menos espírito para conceber as coisas espirituais.” Concluindo estas palavras ela fez o Sinal da Cruz sobre a sua fronte, sobre os seus olhos, sobre os seus lábios e sobre o seu estômago, e acrescentou: “Meu pai, Deus nos livra se quiser do demônio, e de tudo o que vem dele, que de nós tem sem dúvida, muita inveja.”

A estas palavras o ancião prostrou-se a seus pés e disse-lhe chorando: “Conjuro-vos por Nosso Senhor Jesus Cristo, nosso verdadeiro Mestre, que por nossa salvação dignou-se nascer dc uma Virgem e pelo amor de quem estais revestida desta nudez e fizeste sacrifício de vosso corpo para Lhe serdes agradável, não escondais nada, suplico-vos, ao vosso servo, mas dizei-me quem sois, de onde vinde, quando e por que razão viestes para esta solidão, e de maneira geral, sobre todas as coisas que vos dizem respeito; a fim de que, eu conheça assim a grandeza das obras de Deus, pois que benefício pode trazer um tesouro escondido e uma ciência não declarada, assim como diziam as Escrituras? Dizei-me, então, sem escrúpulos, todas as coisas pelo amor de Deus, pois não será por vaidade mas para satisfazer este pobre pecador ainda que ele seja indigno disso. E tomo como testemunha o mesmo Deus para quem vivcs somente, e com quem conversais continuamente, e não creio ter sido trazido para esta solidão, senão pelo desejo Dele de tornar manifesto, tudo o que se passou convosco, visto que não está em nosso poder resistir às Suas vontades, e que se nosso Senhor Jesus Cristo não tivesse desejado fazer-vos conhecer e fazer saber os combates que empreendestes em Seu serviço, Ele não teria jamais permindo que alguém vos tivesse visto, e na fraqueza em que me encontrava que mal me permitia sair de minha cela, Ele não me teria dado forças para fazer com tanta diligência um tão longo caminho.”

Falando assim e acrescentando várias coisas semelhantes, aquela mulher disse-lhe: “Perdoai-me, meu pai, se morro de vergonha de vos deixar ouvir qual foi a infâmia de minhas ações. Entretanto como vistes que eu estava nua, descobri-las-ei também completamente, para que conheçais a força com que as minhas impurezas encheram a minha alma de confusão e vergonha. E estou longe, como dissestes, de querer contar, por algum sentimento de vaidade as coisas que me concernem; pois de que me poderia glorificar tendo sido um vaso de eleição não de Deus, mas do diabo? E estou certa de que assim que começar a vos fazer ouvir toda a história de minha vida, vós fugireis de mim como de diante da serpente e vossos ouvidos não quererão escutar os inúmeros crimes que cometi. Contudo contá-los-ei com verdade e sem nada disfarçar, após vos ter suplicado não interromper nunca as orações por mim, a fim de que me torne digna da misericórdia de Deus e que eu a receba no dia do julgamento.” O ancião, com estas palavras, derramou muitas lágrimas e ela começou então, a sua narrativa.

Capítulo 6

Santa Maria do Egito começa a contar a Zózimo a história de sua vida e diz-lhe como ela passou dezessete anos inteiros em horríveis crimes; e como foi a Jerusalém para ver a cerimônia da Exaltação da Santa Cruz.

Meu pai, meu país é o Egito. Estando meu pai e minha mãe ainda vivos, parti com 12 anos contra a vontade deles para Alexandria, onde não consigo pensar sem enrubescer que perdi primeiramente a honra e deixei-me levar pelo desejo contínuo e insaciável da volúpia infame e criminosa. Precisaria de muito tempo para dizer tudo em pormenores, mas dir-vos-ei tudo o mais breve que puder e tanto quanto seja necessário, para vos fazer saber, como era o ardor excessivo que me consumia no pecado. Permaneci publicamente durante mais de dezessete anos neste abrasamento funesto, e não foi absolutamente por causa de presentes, que deixei de ser virgem, pois recusava tudo o que me ofereciam; o furor que me agitava e que me levava a um tamanho excesso, fazia-me julgar que haveria muito mais urgência, quando eu não desejava absolutamente outra recompensa pelo pecado, senão o próprio pecado. Mas, não vos espanteis por eu me preocupar tão pouco com o dinheiro, visto que, eu queria viver de esmola ou daquilo que roubava, tanto que, como já vos disse, eu não tinha outra paixão senão mergulhar continuamente na lama das minhas impudências. Esta era a única coisa que me agradava e acreditava que era verdadeiramente viver, o abusar assim incessantemente do corpo que Deus me dera.

Como vivia ao acaso, vi um certo dia de verão um grande número de egípcios e líbios que corriam na direção do mar. Tendo perguntado ao primeiro que encontrei: “Para onde correm eles com tanta pressa!” Ele respondeu-me: “Vão para Jerusalém para a Exaltação da Santa Cruz, que como de costume deve ser celebrada dentro de alguns dias.” “Crês ,” perguntei-lhe, “que eles me aceitariam se eu quisesse ir com eles?” “Isto é simples,” respondeu-me, “se tivesses os meios de pagar a passagem.” “Com certeza,” repliquei, “não tenho com que pagar a passagem, nem como pagar as minhas despesas, mas não deixarei de ir, subirei no navio que eles alugaram e se recusarem a me receber, dar-me-ei eu mesma como dinheiro, e tendo desta forma meu corpo em seu poder, me receberão como pagamento. Ora, o que me fazia desejar ir com eles; perdoai-me meu pai o que ouso dizer; era ter muitos cúmplices para o meu furor.

Disse-vos bastante meu pai, sofrei, suplico-vos, e ficarei por aqui; não me obrigueis a continuar a relatar aquilo que me cobre de tão estranha confusão. Pois Deus sabe que eu não poderia falar disso sem tremer, e parece-me que todas as minhas palavras são como manchas, que sujam a pureza do ar onde ecoam.” Zózimo respondeu-lhe, regando com suas lágrimas a terra: “Em nome de Deus, minha mãe, continuai e não omitais nada de uma tão difícil narrativa.” Ela continuou então:

“Aquele jovem foi-se indo com a resposta que eu lhe havia dado, e eu, jogando fora o fuso que trazia na mão e do qual de tempos em tempos servia-me para viver, corri na direção do mar como os outros, e vi em pé na margem nove ou dez jovens cujos rostos e porte agradaram demasiadamente à minha paixão desregrada. Haviam outros também que já tinham subido ao barco, e jogando-me no meio deles despudoradamente como de costume, disse-lhes: recebei-me convosco nesta viagem, e não serei cruel demais convosco. Ao que acrescentando outras palavras mais livres e piores que estas, fi-los rir a todos. Aquelas pessoas percebendo o meu descaramento, pegaram-me e levaram-me num pequeno barco e então começamos nossa navegação.

Ó servo de Deus, como poderia eu contar-vos o que aconteceu em seguida? Que língua pode proferir e que ouvidos escutar, aquilo que se passou naquele pequeno barco durante o caminho, e de que maneira eu incitava ao pecado, aqueles miseráveis que não queriam cometê-lo? Não há palavras que possam representar a imagem detestável, dos crimes em que eu me mostrava tão sábia, e que fiz, com que aqueles pobres miseráveis cometessem. Contentai-vos portanto, meu pai, com que vos diga que não me espantaria, que o mar pudesse sofrer pelas minhas iniquidades e que a terra se abrisse, para me fazer descer viva ao inferno, eu que fazia caírem tantas almas nas redes da morte. Mas Deus, que não deseja a perda de ninguém e que quer que todos sejam salvos, pedia com certeza que eu fizesse penitência; pois Ele não quer a morte do pecador, mas espera a sua conversão com paciência impar.

Fomos assim para Jerusalém e empreguei todos os dias que aí permaneci antes da festa, em ações tão detestáveis quanto as anteriores, e ainda piores, pois não me contentando com o mal que fazia no mar com aqueles jovens, fiz ainda perderem-se muitos outros, tanto da cidade quanto os de fora, aos quais eu solicitava tomarem parte de minhas impudências.

Capítulo 7

Continuação da narrativa da Santa, contendo a sua conversão milagrosa, acontecida no dia da Festa da Exaltação da Santa Cruz e, como ela foi à Igreja de São João Batista onde comungou.

Quando chegou a festa gloriosa da Exaltação da Cruz de Nosso Senhor, eu prosseguia como antes no desejo de perder as almas dos jovens e, tão logo o dia começou a despontar, vendo que todos corriam para a igreja, corri também como os outros, e fui com eles à praça que ficava diante do Templo. Na hora da cerimônia, esforçava-me para avançar. Enfim, com extrema dificuldade cheguei à porta da igreja, mas quando quis entrar como faziam todos os outros sem nenhuma dificuldade, era impedida por um poder divino que me repelia para fora, e assim miserável que estava, encontrei-me sozinha naquela praça diante da igreja. Imaginando que isso provinha de minha fraqueza, lancei-me de novo entre aqueles que acabavam de chegar, e esforçando-me com todo o meu poder para entrar com eles, trabalhava sempre inutilmente.

Tão logo eu tocava a soleira da porta, pela qual todos os outros entravam sem dificuldade, eu era a única rejeitada; e como se houvesse uma multidão de soldados que tivessem ordem de fechar-me a entrada da igreja, eu sentia de repente um poder escondido que fazia o mesmo efeito, e de novo encontrava-me na praça como antes.

Tendo acontecido assim três ou quatro vezes, e vendo que todos os meus esforços eram inúteis, desesperava-me para poder entrar, e não tendo mais quase força para sustentar-me, tanto que meu corpo havia sido imprensado, retirei-me para um canto daquela praça, onde comecei enfim a considerar, qual poderia ser a causa, que me impedia de ver aquele santo madeiro, sobre o qual um Deus morreu para dar a vida aos homens; e um pensamento salutar tendo-me sacudido o espírito e aberto os olhos de minha alma, julguei que a abominação de minha vida, era o que me fechava a entrada do templo. Então, inundada de lágrimas e bastante perturbada, dei socos no estômago, dei grandes suspiros do mais profundo do coração, e misturando meus gritos com soluços, percebi acima de mim uma imagem da Santa Mãe de Deus.

Dirigindo-me logo a ela e olhando-a fixamente eu disse-lhe: “Santa Virgem, que concebeste segundo a carne um Deus todo poderoso, sei que não parece que, estando eu imunda como estou por causa de tantos crimes, eu ousaria adorar a vossa imagem e lançar os olhos sobre vós, que sois uma Virgem muito pura e cuja alma assim como o corpo estão isentos de toda mancha; mas que ao contrário, é bastante justo que vossa incomparável pureza tenha horror de uma pessoa tão abominável quanto eu. Entretanto, já que aprendi que este Deus a quem foste digna de carregar em vosso seio, fez-Se homem para chamar os pecadores à penitência, suplico-vos que me assistais no abandono de socorro em que estou. Recebei a confissão que vos faço de meus enormes pecados, e permiti-me entrar na igreja, afim de que não seja tão infeliz, por ser privada da visão do madeiro precioso onde Deus-homem, que concebeste permanecendo virgem, foi pregado e derramou Seu sangue pela minha salvação. Ordenai, Rainha do Céu, ainda que eu seja indigna, que a porta me seja aberta para adorar a Divina Cruz, e dou-vos por caução o mesmo Jesus Cristo que deste ao mundo; que não me aconteça jamais no futuro cair nas detestáveis impurezas com a qual sujei meu corpo; corpo este, que deveria ter cuidado para conservá-lo casto, e tão logo tenha visto o santo madeiro onde vosso filho quis sofrer por nós, renunciarei ao mundo e a todas as coisas que vem dele, e partirei na mesma hora para ir ao lugar que vos aprouver levar-me, ó Virgem Santa, como minha caução e meu guia.”

Tendo concluído estas palavras e o ardor da fé, que já começava a sentir no coração dando-me algum consolo, e fazendo-me ter confiança na bondade tão terna e tão caridosa da Mãe de Deus, parti do lugar onde havia feito a minha oração, e misturando-me àqueles que iam à igreja, não encontrei mais nada que me repelisse nem que impedisse a minha entrada. Então, fui tomada por um tremor como transportada fora de mim; todas as coisas espantavam-me, e os obstáculos que antes encontrei haviam cessados, e aquele poder secreto que me repelia, parecia agora facilitar-me a entrada; cheguei sem nenhuma dificuldade até o coração da igreja, onde recebi a graça de adorar o precioso madeiro da Cruz gloriosa, que dá a vida aos homens.

Conhecendo assim, o incompreensível excesso da misericórdia de Deus, e como Ele está sempre pronto para receber os pecadores na penitência, joguei-me na terra e após haver beijado o santo chão da igreja, sai e corri para Aquela que havia me respondido. Tendo chegado ao lugar onde minha promessa estava escrita, ajoelhei-me diante da imagem da Santa Virgem e dirigi-Lhe a minha oração desta maneira: “Muito misericordiosa Mãe de Deus, fizestes-me ver os efeitos da vossa incomparável bondade, visto que não rejeitastes minha humilde súplica ainda que indigna de ser ouvida. Vi a glória que os maus são justamente privados de ver, a glória de Deus todo poderoso, que por vossa intercessão recebe a penitência dos pecadores. Mas, miserável que sou, que necessidade há de lembrar-me e de falar mais sobre meus crimes? É tempo, Virgem Sagrada, de realizar com vossa assistência aquilo que vos prometi. Envia-me então, onde vos aprouver, sede meu guia no caminho da minha salvação; instrui-me na verdade; e mostrai-me a via que conduz à penitência.” Falando assim, ouvi uma voz como de alguém que me chamava de muito longe: “Se passares o Jordão, encontrarás um feliz repouso.” Escutando estas palavras e acreditando que eram ditas para mim, gritei chorando e olhando a imagem da Virgem: “Rainha do Universo, por quem a salvação chegou aos homens, não me abandoneis, suplico-vos.” Depois destas palavras saí daquele lugar e fui-me com grande pressa. Alguém que me viu, deu-me três peças de dinheiro e disse-me: “Recebei isto.” Tomando-as comprei três pães para a viagem que ia empreender com a graça de Deus, e tendo pedido ao padeiro o caminho do Jordão, soube por ele, por qual porta da cidade deveria sair, e fui-me então correndo e chorando.

Empreguei assim o resto do dia fazendo sem cessar, reflexões sobre mim mesma. Ora, era por volta da terceira hora do dia, quando tive a felicidade de ver a Santa e Preciosa Cruz de Nosso Salvador; e o sol estando prestes a se pôr, percebi a Igreja de São João Batista, que assentava-se ao longo do Jordão. Fui logo para o rio e lavei as mãos e o rosto com aquela água santa, e voltei para a sua igreja onde recebi o precioso Corpo de Nosso Senhor Jesus Cristo, que dá a vida às almas. Depois, tendo comido a metade de um dos meus pães e bebido a água do rio, descansei a noite na terra.

Capítulo 8

Continuação da narrativa da Santa, contendo a maneira pela qual ela cruzou o Jordão para ir ao deserto, onde permaneceu 47 anos. E de que modo viveu durante este tempo.

Tendo chegado a alvorada, passei para o outro lado do Jordão e lá pedia ainda à Santa Virgem como meu guia, que me conduzisse ao lugar que lhe agradasse; e cheguei assim nesta solidão onde desde aquele tempo até hoje afasto-me cada vez mais, o quanto posso, evitando o encontro com quem quer que seja, e esperando a vinda do meu Deus, que salva os pequenos e os grandes que a Ele se convertem.”

Então Zózimo lhe disse: “Minha mãe, há quantos anos estais nesta solidão!” Ela respondeu: “Segundo os cálculos que fiz, há 47 anos saí da Cidade Santa.” “E o que encontrastes desde então e o que podeis encontrar ainda todos os dias,” retorquiu Zózimo, “com que vos possais alimentar?” Ela replicou: “Quando cruzei o Jordão, tinha ainda dois pães e meio, que logo ressecaram e ficaram duros como pedras, e durante alguns anos comia um pouco de cada vez”: Zózimo lhe disse: “Pudestes passar assim tanto tempo sem sofrer muitas penas e sentir muitas perturbações em vosso espírito, por tão grande mudança?”

“Fazeis uma pergunta,” disse ela, “à qual não saberia responder, sem tremer pela lembrança de tantos perigos, que pela minha maldade fizeram agitar demais a minha alma; pois temo que relatando-os, eles me inquietem ainda.” “Dize-me, eu vos suplico, minha mãe”, respondeu-lhe Zózimo, “sem esquecer coisa alguma, pois tendo Deus querido que vós me conhecesseis, não deveis esconder-me nada.”

Então ela retomou a palavra: “É verdade, meu pai, que passei dezessete anos combatendo sempre contra desejos violentos, importunos e despropositados quando começava a comer; pois desejava carne, lamentava os peixes do Egito, e desejava muito vinho, do qual gostava tanto e que no mundo bebia em excesso ao ponto de perder a razão; no lugar onde me encontrava, então, sem haver uma gota d’água somente, o que acendia em minhas veias uma sede tão ardente, que me reduzia à extremidade. Também morria de vontade de cantar aquelas canções dissolutas, que são canções do diabo, que havia aprendido pela vida, e que voltando à memória enchiam meu espírito de perturbação; mas, de repente, começando a chorar e batendo-me no estômago, representava-me a promessa tão solene que havia feito, ao vir para esta solidão e em espírito punha-me diante da imagem da Santa Mãe de Deus que me tinha sob sua proteção, suplicava-lhe em lágrimas que afastasse de mim estes pensamentos que tanto afligiam a minha alma. Muito cheia de dor, depois de ter chorado extremamente e mortificado-me com golpes, via depois uma luz e meu espírito voltava à calma.”

“Perdoai-me, meu pai, se não vos posso contar em detalhes todos os pensamentos, que me agitavam ainda por levarem-me no desejo do pecado. Sentia-me queimar com um ardor infeliz, que me arrastava, como à força, no desejo de cometê-lo; mas quando estas tentações me perseguiam, prostrava-me contra a terra, regava-a com minhas lágrimas e acreditando ver verdadeiramente diante de meus olhos, Aquela que havia respondido por mim, parecia-me que ela me reprovava com ameaças o excesso de fúria que me agitava e que, cheia de cólera, me fazia ver quais seriam os castigos assustadores pela minha horrível infidelidade; e não me levantava nunca, senão depois que aquela luz tão doce e tão favorável me houvesse iluminado como antes e banido estas perturbações de meu espírito. Era assim que eu elevava incessantemente o meu coração para aquela Santa Virgem, que carregava em Seu seio o Autor da castidade, e que eu havia tomado como minha caução para com Deus, suplicando a Ela que me assistisse naquela solidão e em minha penitência; ao que Ela jamais faltou.”

“Eis aí meu pai, como passei estes dezessete anos em um combate perpétuo, contra tantas tentações e perigos. E, desde então, esta feliz Mãe de Deus que é todo o meu recurso e todo o meu auxílio nunca me abandonou, e serviu-me de guia em geral em todas as coisas.”

Então Zózimo disse-lhe: “De que vos alimentastes e vestistes?” Ela respondeu: “Aqueles pães como vos disse duraram dezessete anos; e depois disto vivi das ervas que encontrei no deserto. Quanto às roupas, as que tinha quando cruzei o Jordão tendo-se estragado completamente, sofri muitas penas; o ardor excessivo do verão queimando-me e os frios insuportáveis do inverno reduzindo-me a um tal estado, que traspassada e tremendo, caía frequentemente no chão e permanecia como morta sem poder me mexer, combatendo assim, contra tantas necessidades e tentações diversas. Mas, no meio destas penas, o poder de Deus, de mil diferentes maneiras, conservou até hoje o meu corpo e a minha alma; e repassando em meu espírito de que males o Senhor me livrou, alimento-me de uma carne que não me falta jamais, e estou saciada pela esperança que tenho de minha salvação. A palavra de Deus que contém todas as coisas, serve-me também de alimento e de abrigo. Pois o homem não vive do pão somente. E quando àqueles, que são despojados dos afetos do pecado, faltam vestes, encontram rochedos que os cubram.”

Capítulo 9

Conclusão do discurso da Santa e de Zózimo, a quem ela obriga a vir trazer-lhe em um ano, a Santa Eucaristia; e depois separar-se dele.

Zózimo, vendo que ela citava passagens das Santas Escrituras, tiradas dos livros de Moisés, de Jó, e dos Salmos, disse-lhe: “Minha mãe, aprendestes os Salmos e lestes outros livros das Sagradas Escrituras?” Ela respondeu sorrindo: “Asseguro-vos, que desde que passei o Jordão para vir a este deserto, não vi outro homem do mundo senão a vós, nem encontrei nenhuma besta selvagem, nem nenhum outro animal. Também não aprendi, nem nunca escutei alguém que cantasse os Salmos ou os lesse; mas a palavra de Deus que é viva e eficaz, penetrando fundo no espírito humano, o instrui e ensina-lhe de maneira bastante particular. Agora, tendo acabado de prestar-vos conta daquilo que me concerne, conjuro-vos pela Encarnação do Verbo Eterno, que oreis por mim, pois sabeis que tenho cometido muitos crimes.”

A estas palavras, o ancião pôs-se de joelhos e prostrou-se contra a terra dizendo em voz alta: “Bendito seja o Senhor, que sozinho, faz maravilhas inumeráveis, tão grandes, tão admiráveis e tão gloriosas, que enchem o espírito de espanto. Bendito sede vós, meu Deus, que me fizestes ver hoje quais são os favores, com os quais cumularás aqueles que vos temem. Ó Senhor, é bem verdade que não abandonais nunca as pessoas que vos procuram.” A Santa tomando-o pela mão não lhe permitiu continuar por mais tempo contra a terra, e disse, levantando-o: “Conjuro-vos por Jesus Cristo nosso Salvador não contar a quem quer que seja, as coisas que vos disse, até que Deus me tenha libertado da prisão de meu corpo; conservai sob o selo do segredo, e com a graça de Deus rever-me-eis ainda no ano que vem, na mesma época em que estamos. Peço-vos também em Seu nome para faltar com aquilo que vos pedi, que na próxima Quaresma não passeis o Jordão segundo o costume do mosteiro onde estais.” Zózimo assombrado de ver que ela sabia deste costume e que ela falava disso como uma pessoa informada a este respeito, clamava sem cessar: “Glória seja dada a Deus, que concede àqueles que o amam, muito mais do que eles Lhe pediram.”

Ela continuou assim: “Meu pai, não saiais, suplico-vos, durante este tempo do mosteiro, de onde, quando quiserdes não estará em vosso poder sair, e na noite da Santíssima Ceia de Nosso Senhor, trazei-me num vaso sagrado e digno de tão grande mistério, o divino corpo e sangue vivificante de nosso Salvador e esperai-me do lado do Jordão, que encontra os países habitados pelas gentes do mundo, a fim de que quando eu chegar, receba estes ricos presentes que dão a vida aos fiéis. Pois, desde que comunguei na igreja do bem-aventurado Precursor antes de passar o Jordão, nunca mais recebi este Santíssimo alimento; o que me faz conjurar-vos com tanta insistência a que não recuseis meu pedido, mas trazei-me, peço-vos, o Divino Sacramento que é a vida de nossas almas; à mesma hora que Nosso Senhor criando-Os com Seus discípulos, tornou-os partícipes. Dizei a João, abade do mosteiro onde permaneceis, que vele por si mesmo e por seu rebanho, porque passam-se coisas lá, que precisam de correção. Entretanto não desejo que lhe deis este aviso presentemente, mas quando Deus vô-lo ordenar.”

Tendo acabado de proferir estas palavras e pedido a bênção do santo ancião, foi-se rapidamente para o fundo do deserto.

Capítulo 10

Tendo passado um ano, Zózimo levou a Santa Eucarístia à Santa Maria do Egito, e ela comungou. Depois, ela pediu-lhe para voltar no ano seguinte ao mesmo lugar, onde ela pela primeira vez tinha falado com ele.

Zózimo jogando-se no chão beijou o rastro dos passos da Santa, e depois voltou glorificando a Deus e prestando-Lhe infinitas ações de graça. Passando pelo mesmo caminho que havia feito no deserto, ele voltou ao mosteiro no mesmo tempo que os outros, e permaneceu todo o ano seguinte no silêncio, não ousando falar daquilo que havia visto; mas orava a Deus que lhe permitisse ver ainda aquela pessoa, por quem tinha tanto respeito e tanta admiração, e o tempo custava tanto a passar, que ele suspirava pensando no quanto este ano era longo.

Quando chegou a época do Santo Jejum e os outros Solitários depois da oração costumeira, saíram no primeiro Domingo da Quaresma cantando os Salmos, ele foi impossibilitado de ir, por uma febre que o obrigou a permanecer no mosteiro. Então lembrou-se do que a Santa lhe havia dito, que mesmo que quisesse, ele não poderia sair de lá, e alguns dias mais tarde foi aliviado de sua indisposição. Voltando os Solitários, ele realizou o que lhe havia sido ordenado, colocando em um pequeno cálice o Corpo e Precioso Sangue de Nosso Senhor Jesus Cristo e levou também dentro de uma cesta de vime alguns figos, damascos e lentilhas embebidos em água. Depois chegando a noite, sentou-se à beira do Jordão para esperar a Santa, não se deixando adormecer, pois que ela tardava a chegar; mas olhava atentamente para o lado do deserto à espera do que desejava tanto ver, e dizia: “Não teria ela vindo, e não tendo-me encontrado, teria retornado, então?” Acompanhava suas palavras com lágrimas, e erguendo os olhos para o céu com ardor, fazia esta oração: “Meu Deus, não me recuseis ver ainda aquela que já me concedestes o favor de vê-la; mas temo, que os meus pecados me tornem indigno de receber esta graça.”

Assim orando e chorando, ocorreu-lhe um outro pensamento, e dizia consigo: “Mas se ela vier, o que fará? Como passará o Jordão para vir a mim pobre pecador, já que não há aqui nenhum barco? Ai! Infeliz que sou, quem me terá feito perder a felicidade, que eu tinha tanto motivo para esperar?” Estando o ancião assim, a Santa chegou e ficou do outro lado do rio. Zózimo, ao vê-La, levantou-se, e transportado pela alegria dava graças a Deus. Mas como ele estava sempre em extrema inquietação de como ela poderia passar o Jordão, ele a viu fazer o Sinal da Cruz sobre o rio (pois a lua estava então cheia e seus raios tornavam a noite extremamente clara) e em seguida caminhar sobre as águas como se estivesse em terra firme, o que o espantou de tal maneira que quis ajoelhar-se, mas ela impediu-o gritando: “Que fazeis, meu pai? Não vos lembrais de que sois padre de Deus e que levais os Divinos Mistérios?” Ele obedeceu a estas palavras, e ela, após ter passado o rio, disse-lhe: “Meu pai, dai-me a vossa bênção.” Ao que ele respondeu ainda sob a impressão extrema que lhe havia causado tamanho milagre: “Em verdade Deus é bastante fiel, quando promete tornar semelhante a Ele, aqueles que se purificam com tanto zelo pelo Seu amor. Meu Deus e meu Mestre, sede glorificado para sempre, por aquilo que me fizestes ver na pessoa de vossa serva, o quanto estou longe da verdadeira perfeição.” Ela pediu-lhe em seguida que recitasse o Símbolo e começasse a Oração Dominical. Quando terminou, segundo o costume, a Santa deu ao ancião o beijo da paz e depois recebendo o Santíssimo Sacramento estendeu as mãos para o Céu, e misturando seus suspiros às suas lágrimas, proferiu em voz alta: “Senhor, permiti agora à vossa serva, segundo a vossa Divina Palavra, partir em paz, pois meus olhos viram o meu Salvador,” e voltando-se para o ancião disse-lhe: “Perdoai-me, meu pai, o mal que vos causei, e concedei-me ainda este outro pedido: voltai agora sob a condução de Deus para vosso mosteiro, e quando o tempo estiver terminado, ide à torrente, onde vos falei pela primeira vez; mas, em nome de Deus, não falteis, e ver-me-eis então da forma que Ele quiser.” O ancião respondeu-lhe: “Aprouve a Deus que estivesse em meu poder seguir-vos e gozar da felicidade da vossa presença. Mas, suplico-vos, minha mãe, não recuseis um pequeno pedido que tenho para vos fazer: que queirais comer alguma coisa, daquilo que vos trouxe.” Então ela tomou somente 3 grãos de lentilha, os colocou na boca dizendo, que a graça do Espírito Santo era suficiente para conservar a alma na pureza, e acrescentou dirigindo-se ao ancião: “Rogo-vos, meu pai, em nome de Deus, orai por mim e não esqueçais nunca as minhas misérias.” Zózimo beijando seus pés santos, conjurou-a a rezar pela Igreja, pelo Império e por ele. E chorando e suspirando, deixou-a partir, pois não ousava retê-la mais e mesmo que quisesse não teria conseguido.

Capítulo 11

Zózimo indo ao lugar onde a Santa lhe havia indicado, encontra-a morta e a enterra. Conclusão de todo este discurso

A Santa fez ainda o Sinal da Cruz sobre o Jordão e depois caminhando sobre as águas, atravessou-o da mesma forma que havia feito ao vir, e Zózimo voltou cheio de alegria e espanto, e com pena, por não ter-lhe perguntado seu nome. Mas esperava consertar este erro no ano seguinte. E quando este ano foi concluído e os costumes ordinários do mosteiro tendo sido observados, ele voltou ao deserto que está para além do Jordão, e caminhava com muita pressa pelo desejo de gozar da felicidade de rever aquela gloriosa Santa. Mas, avançando naquela imensa solidão, e olhando e procurando de todos os lados encontrar alguma marca, que o conduzisse ao lugar onde desejava com tanto ardor chegar; como fazem os caçadores para encontrar os animais que querem caçar; enfim não vendo nenhum vestígio, encharcou de lágrimas o seu rosto e disse erguendo os olhos para o céu: “Muito humildemente eu vos suplico, meu Deus, ver este Anjo em corpo mortal, ao qual o mundo inteiro não é digno de ser comparado.”

Tendo terminado esta oração, chegou à torrente; e como todo o alto deste lugar, estava iluminado pelos raios do sol, ele percebeu na terra o corpo morto da Santa, cujo rosto estava voltado para o oriente e as mãos cruzadas. Correu logo para lá, lavou seus pés com suas lágrimas sem ousar tocar nenhuma parte de seu corpo. Tendo em seguida cantado os Salmos e recitado as orações costumeiras em ocasiões semelhantes, disse consigo: “É possível que a Santa não se agradasse daquilo que faço.” Como estava nestes pensamentos, viu estas palavras escritas na terra: “Meu pai Zózimo, enterrai o corpo da miserável Maria, devolvei a terra o que é da terra, pó ao pó. Em nome de Deus, orai por mim, neste décimo dia de Abril, na véspera da Paixão de Jesus Cristo Nosso Salvador e após ter sido tornada partícipe de Seu Santíssimo e Divino Corpo.”

Tendo lido estas palavras, o ancião pensava consigo quem poderia tê-las escrito, visto que a Santa havia-lhe dito que ela não sabia escrever, e tivera uma extrema alegria por desta maneira ter sabido o seu nome. Ele soube desta forma, que no instante em que ela recebera o Santo Sacramento à beira do Jordão, viera para aquele lugar e passara ao Céu; e que assim ela havia feito em um momento, o mesmo caminho em que ela havia empregado 20 dias inteiros caminhando sem parar. Este bom ancião tendo prestado infinitas ações de graças a Deus e encharcado com seu pranto o corpo da Santa, pôs-se a dizer: “É tempo, Zózimo, de executar o que te foi ordenado. Mas infelizmente como farei, pois não tenho como cavar a terra, nem pá nem coisa alguma.” Enquanto falava ao acaso, viu um pequeno pedaço de madeira e tomou-o, e começou a tentar abrir a terra; mas era tão dura, e ele tão extremamente fraco por conta de seus jejuns e com o caminho tão longo, que foi-lhe de todo impossível. Então, encharcado de suor do esforço que havia feito inutilmente, deu profundos suspiros, e levantando os olhos percebeu junto ao corpo da Santa um enorme leão, que lhe lambia os pés, o que o encheu primeiramente de um maravilhoso pavor e principalmente porque a Santa lhe havia dito, não ter jamais visto nenhum animal selvagem naquele deserto. Mas assegurou-se pelo Sinal da Cruz e pela fé, que aquele santo corpo poderia protegê-lo de todo o perigo. E o Leão começou a fazer-lhe carícias como para saudá-lo. Então Zózimo disse-lhe: “Rei dos animais, já que Deus enviou-te aqui, a fim de que o corpo de Sua serva não permaneça insepulto, cumpre o teu encargo, dando-me os meios de colocá-lo na terra; pois além de minha velhice que me tira a força de cavar, não há nada aqui que seja apropriado, e eu não poderia depois fazer um tão longo caminho como o que já fiz; mas visto que recebeste ordens de Deus para isso, usa tuas unhas nesta obra.”

Obedecendo ao ancião, o leão cavou de súbito uma fossa suficiente, e Zózimo depois de regar com suas lágrimas os pés da Santa, e com muitas orações, implorando sua assistência para todo o mundo e particularmente por ele; cobriu o corpo de terra, deixando-o como o havia encontrado; coberto somente uma parte, por aquele velho casaco rasgado, que havia jogado para a Santa dois anos antes. Enquanto isso, o leão permaneceu firme, e quando o oficio de piedade acabou, retiraram-se os dois ao mesmo tempo. Este soberbo animal e uma doce ovelha foram-se para o fundo do deserto, e Zózimo voltou bendizendo a Deus e cantando um Cântico de louvor a Jesus Cristo Nosso Salvador.

Quando voltou ao mosteiro, contou-lhes desde o começo o que lhe havia acontecido, sem nada esconder-lhes do que vira ou escutara, para que aprendendo os efeitos milagrosos da Onipotência de Deus, fossem cheios de admiração e que assim celebrassem com temor e com amor; o dia da bem aventurada passagem daquela gloriosa Santa, por cuja opinião o abade João percebeu, que alguns de meus irmãos precisavam de correção e converteu-os pela assistência da misericórdia de Deus. Quanto a Zózimo, depois de ter vivido até a idade de 100 anos naquele mosteiro, foi-se em paz gozar da Presença de Deus pela Graça de Jesus Cristo, ao qual com Seu Pai e o adorável Espírito Santo vivificador das almas, a honra, o poder e a glória pertencem pelos séculos dos séculos. Amém.

Folheto Missionário número PA19b

Copyright © 2001Holy Trinity Orthodox Mission

466 Foothill Blvd, Box 397, La Canada, Ca 91011

Editor: Bishop Alexander (Mileant)

 





Rancor é o verme do coração

2 03 2015

seraphim5Quando o espírito mal do rancor toma a alma, então ao cumulá-la com sua amargura e desconforto, não permite que oremos com a diligência necessária; ele abala a atenção necessária à leitura de assuntos espirituais, desprovendo-a da humildade e a boa natureza no tratamento para com o próximo, sem falar que gera aversão a qualquer diálogo. Pois que a alma magoada, tornando-se insana e frenética, não pode aceitar uma sugestão calma, nem responder de maneira doce as questões que lhe são colocadas.

Corre das pessoas como que dos autores de seu embaraço, não compreendendo que a razão por tal enfermidade – está no interior dela própria. O rancor é o verme do coração.

por São Serafim de Sarov

http://auroraortodoxia.blogspot.com.br/





Combate na Oração

18 02 2015
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Caminhemos com perfeita atenção do coração, exercida do fundo da alma. A atenção, diariamente aliada à oração, produz uma espécie de novo carro de fogo que arrebata o homem para o céu. O que estou dizendo? O coração abençoado do homem solidamente firme na sobriedade, ou que nela se esforça, torna-se o céu interior, com sol, lua, astros e abeira-se de Deus, o Inacessível, por meio de uma ascensão e de uma visão misteriosas. Aquele que ama a divina virtude deve esforçar-se a todo momento em pronunciar o Nome do Senhor e fazer as palavras transformarem-se em ação, com todo o ardor que é capaz. O homem que usa de certa violência contra os cinco sentidos, para reprimi-los e impedi-los de prejudicar a alma, torna muito mais fácil ao espírito o combate interior do coração. Ele repele o mundo exterior através de certos recursos, luta contra os pensamentos nascidos desse mundo, por meio de astúcias espirituais: maltrata, pelo cansaço das vigílias, os prazeres da carne; impõe-se privações no beber e no comer, e submete bastante o corpo, para facilitar antecipadamente a guerra do coração. Todo proveito será vosso. Torturai a alma pelo pensamento da morte, recolhei vosso espírito disperso, através da lembrança de Jesus Cristo, principalmente à noite; pois, o espírito é em geral mais puro nessa hora, mais cheio de luz, mais disposto a contemplar Deus e as coisas divinas, com lucidez.
por Filoteu o Sinaíta
Extraído do livro Pequena Filocalia




A sucessão apostólica e a impossibilidade de apagar a marca do sacerdócio.

10 04 2013
Santo Irineu de Lyon

Santo Irineu de Lyon

 

Comparando diversos textos das Escrituras Sagradas que falam sobre a seleção e a ordenação nas funções eclesiásticas, vê-se que nesse processo dois momentos entrelaçam-se intimamente: de um lado — a escolha de Deus, e outro — a concretização da escolha e uma ordenação especial do candidato por servidores autorizados da Igreja.

Assim, após a Ascensão do Salvador ao céu, os Seus apóstolos preencheram o lugar deixado vago por Judas, elegendo um novo discípulo para completar os doze. Tendo rezado a Deus, pedindo para indicar-lhes um candidato digno, eles deitaram sorte. E a sorte caiu sobre Matias (não Mateus, o Evangelista mas outro), que a partir desse momento foi declarado colaborador pelos apóstolos com plenos poderes (Atos cap. 1).

Como é visto do Evangelho e dos antigos documentos cristãos, a ordenação para servir na Igreja — seja bispo, presbítero ou diácono — sempre foi realizada por imposição das mãos (em russo — “rukoplojenie”), isto é pela formal colocação das mãos dos que ordenam sobre a cabeça do ordenado. Assim, lemos no livro de Atos dos Apóstolos sobre a ordenação de sete diáconos: “Apresentaram-nos aos apóstolos e estes, orando, impuseram-lhes as mãos” (At 6:6). A respeito da ordenação dos presbíteros em Listra, Iconio e Antioquia, o Santo Lucas escreve: Paulo e Barnabé “em cada igreja ordenaram presbíteros e após orações com jejuns, encomendaram-nos ao Senhor, em Quem eles tinham fé” (At 14:23). O apóstolo Paulo lembra ao seu discípulo Tito, instituído como bispo da Ilha de Creta: “Eu te deixei em Creta para acabardes de organizar tudo e estabelecer presbíteros em cada cidade, de acordo com as normas que te tracei” (Tito 1:5), mas “a ninguém imponhas as mãos inconsideradamente para que não venhas tornar-te cúmplice dos pecados alheios” (1 Tim 5:22) — evidentemente porque o que ordena tem a responsabilidade pelo que é ordenado.

É importante notar que a imposição das mãos dos apóstolos era tido não apenas como um sinal visível de designação para uma outra função na Igreja, mas era considerado como condutor da força divina real e perceptível, apesar de invisível. Apenas nesse plano tornam-se compreensíveis as palavras do apóstolo Paulo dirigidas ao Timóteo que ele ordenou bispo da cidade de Efeso: “Não negligencies o dom de Deus que está em ti e que te foi dado por profecia quando a assembléia dos presbíteros te impôs as mãos” (1 Tim 4:14) e um pouco mais tarde: “eu te exorto a reavivar a chama do dom de Deus que recebeste pela imposição das minhas mãos” (2 Tim 1:6).

Além disso, ordenando pessoas escolhidas por eles para um determinado cargo na igreja, os apóstolos tinham a consciência que a causa primeira da eleição e da ordenação vem a ser não eles, mas o Senhor. “Que os homens nos considerem pois como servos de Cristo e administradores dos mistérios da fé” (1 Cor 4:1). Dirigindo-se aos pastores de Efeso, o apóstolo Paulo diz: “Cuidai de vós mesmos e de todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu bispos para pastorear a Igreja do Senhor e Deus, que Ele adquiriu com o Seu próprio sangue” (At 20:28).

Já a partir do primeiro século do cristianismo se firmou a tradição, com certeza estabelecida pelos apóstolos, que somente bispos podem efetuar a ordenação. Além disso, para ordenação de um bispo são necessários dois ou mais bispos, sendo que, para a ordenação em funções inferiores basta um bispo. Eis trechos das orações que são lidas durante a ordenação sacerdotal: “A graça de Deus, que sempre cura os enfermos e preenche os que estão empobrecidos, eleva o reverendíssimo diácono … a presbítero. Rezemos por ele, para que a graça do Espírito Santíssimo desça sobre ele.” O coro, respondendo, canta lentamente: “Senhor, tenha piedade.” Mais adiante, o bispo reza: “Deus, grande em força, insuperável na razão, admirável no conselho mais que os filhos dos homens, Senhor, preencha com o dom de Espírito Santo esse Teu servo a quem benevolentemente elevaste ao degrau de presbítero, para que ele seja digno perante o Teu altar, proclame o Teu Evangelho, leve a palavra da Tua verdade, faça os sacrifícios espirituais, renove as Tuas pessoas com a pia batismal do novo nascimento. Para que ele, tendo sido digno de encontrar Jesus Cristo, Deus e nosso Salvador, Teu Filho Unigênito na Sua segunda vinda, receba a recompensa de bom administrador de acordo com a missão que lhe foi confiada, pela Tua graça … “

Desde os tempos mais antigos, a Igreja Ortodoxa zelava com muita severidade pela continuidade da sucessão apostólica, isto é, que cada novo bispo recebesse a sua ordenação dos bispos legítimos, cuja ordenação levasse ininterruptamente até os apóstolos. Sabemos da “História da Igreja” do bispo Eusedio do Cesarea (início do século IV), que todas as igrejas cristãs antigas locais conservam a lista de seus bispos, na sua seqüência ininterrupta. Isso dava a possibilidade de rejeitar os impostores.

“Nós podemos, — escreve o Santo Irineu do Lyon (meados do século III), — enumerar aqueles, que foram colocados como bispos nas igrejas, desde apóstolos até nós” e realmente cita na seqüência de sucessão os bispos da Igreja Romana até quase o final do século II. Também Tertulian (século III), manifestou-se a favor da importância da sucessão. Ele escreve sobre os hereges do seu tempo: “Que eles mostrem a origem de suas igrejas e anunciem a seqüência de seus bispos, tal que o primeiro de seus bispos tivesse antes dele algum dos apóstolos, ou homens apostólicos, que tenham tido muito contato com os apóstolos. Pois, as igrejas apostólicas mantém as suas listas de bispos exatamente assim: a smirna, por exemplo, apresenta Policarpo (início do século II), que foi colocado por João; a romana — Clemente, que foi ordenado por Pedro; assim também outras igrejas apresentam os homens que foram elevados a bispos a partir dos próprios apóstolos, tinham brotos da semente apostólica.”

Se a corrente da sucessão apostólica por alguma razão encontra-se interrompida, então as ordenações seguintes não são consideradas válidas, e as missas e os mistérios, realizados pela pessoas ilegalmente ordenadas — desprovidos da graça divina. Essa condição é tão séria que a ausência de sucessão dos bispos em uma ou outra denominação cristã despoja-a da qualidade de Igreja verdadeira, mesmo que o bensino dogmático presente nela não esteja deturpado. Esse foi o entendimento da Igreja desde o seu início.

Ao mesmo tempo, o sacramento da ordenação feito corretamente é indelével. Por isso é proibido ordenar duas vezes a mesma pessoa para o mesmo cargo.

O Sacramento de Ordenação, assim como os sacramentos de Batismo e da Cura, muda essencialmente o homem, dotando-o de direito e de força espiritual para ensinar os crentes, rezar missas. No entanto, esse poder e força somente atuam enquanto o servidor da Igreja encontra-se na Igreja e em total obediência a ela. Os sacramentos oficiados pelos sacerdotes proibidos — não são válidos.

Fonte:http://www.fatheralexander.org





Ditos sobre orgulho e humildade.

9 04 2013

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Das Sagradas Escrituras.

O orgulho vem antes da destruição e um espírito altivo antes da queda (Prov. 16:18).

Antes da destruição do coração de um homem está a soberba e antes da honra, a humildade (Prov. 18:12).

(Sirach 3:17-18).

(Sirach 10:9).

(Sirach 10:18).

See also: Sirach 3:21; 4:7; 13:1; 20:11.

O temor do Senhor é a instrução da sabedoria e antes da honra está a humildade (Prov. 15:33).

O orgulho de um homem o fará cair, mas a honra elevará o humilde de espírito (Prov. 29:23).

O Senhor está perto daqueles de coração quebrantado e salvará os de espírito contrito (Ps. 34:18).

Para aqueles disse o Elevado e sublime, que habita nas alturas por toda a eternidade, cujo nome é santo: Eu habito nas alturas e no lugar santo, com ele está o contrito e de espírito humilde para reviverem os seus espíritos. (Isaiah 57:15).

Jesus Cristo: “Tomem o meu jugo sobre vocês e aprendam de mim, que sou pobre e humilde de coração e encontrarão repouso para as suas almas” (Mat. 11:29).

Os apóstolos tinham um argumento maior entre eles : “E Jesus chamou uma criança para perto de si e colocou-a no meio deles e disse, em verdade, eu vou disso, se não se converterem e se tornarem como uma pequena criança, não poderão entrar no reino dos céus. Portanto, devem humilhar-se a si mesmos, serem como esta pequena criança, para serem grandes no reino dos céus” (Mat. 18:2-4).

A oração da Virgem Maria: Deus “Ele olhou para a pequenez de sua serva e, portanto, todas as gerações me chamarão de abençoada” (Lucas 1:48).

Jesus asked His disciples: “For whether is greater, he that sitteth at meat, or he that serveth? is not he that sitteth at meat? But I am among you as he that serveth” (Lucas 22:27).

Deus resiste aos orgulhos, mas dá a sua graça aos humildes (João 4:6).

Vocês, jovens, submetam-se aos mais velhos. Sim, sejam sujeitos uns aos outros, e se vestirão da humildade, pois Deus resiste aos orgulhosos e dá a sua graça aos humildes (1 Pedro 5:5; veja também Sl. 147:6).

Como cada homem recebeu o dom, mesmo cada ministro seja igual ao outro, pois o bem glorifica a graça de Deus. Se alguém falar, deixe-o falar os oráculos de Deus, deixem-o praticar a habilidade que Deus lhe deu; Deus é glorificado em muitas coisas através de Jesus Cristo: naquele que o glorifica e louva para todo o sempre. Amém. (1 Pedro 4:10-11).

Quem é sábio e cheio de conhecimento dentre vocês (João 3:13).

Mas a sabedoria do alto é antes de tudo pura, pacífica, gentil, modesta, misericordiosa, cheia de bons frutos, imparcial e sem hipocrisia (João 3:17).

Agora rogo a vocês, irmãs, em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo, que todos falem a mesma coisa e que não haja divisões entre vocês, mas que estejam perfeitamente unidos em uma mesma mente e um mesmo julgamento. (1 Cor. 1:10).

Portanto, se qualquer consolação em Cristo, qualquer conforto no amor, qualquer acompanhamento do espírito, se há alguma comiseração ou misericórdia, sejam cheios de alegria, do mesmo pensamento, tendo o mesmo amor, estando de acordo, como uma só mente. Não deixem nada ser feito para a vanglória, mas na humildade da alma pensem sempre o melhor dos outros do que vocês mesmos. Olhem para cada homem não através de suas próprias coisas, mas pelas coisas dos outros. Deixe sua mente ser sua, como é a de Jesus Cristo.

(Phil. 2:1-5).

Veja também: Rom. 12:16; 1 Cor. 1:26-31; Col. 3:12.

Dos Santos Pais.

São Macários, o Grande.

O Senhor, conhecendo a fraqueza humana e a sua inclinação à vanglória, restringiu-o e não o deixou permanecer em um estado de aperfeiçoamento. Desde você, ao adquirir algo pequeno, exalta-se e torna-se insuportável para os outros, quanto mais insuportável você se tornaria se apreciasse todos os dons espirituais de imediato? É por isto que Deus, ciente de sua fraqueza, manda-lhe infortúnios de acordo com a Sua providência, para manter-lhe humilde e lutar mais vigorosamente em direção a Ele,

Quando alguém se aparta da graça, ele se considera o pior dos pecadores e este é um pensamento natural. Quanto mais alguém conhece a Deus, mais ele acredita que não conhece nada e mais ele aprende, mais ele nega a si mesmo. A graça o assiste e instala, naturalmente, esse modo de pensar.

Mas se você vê que alguém se vangloria ou se enaltece de seus dons, esteja certo de que, mesmo fazendo milagres e ressuscitando os mortos, ele está sendo enganado pelo poder maligno, embora não o saiba. Mesmo fazendo milagres não creia nele, porque a marca de um genuíno cristão é, ao receber um dom de Deus, escondê-lo de outros. Sendo a possessão dos tesouros do rei, o crente os esconde, dizendo: “não são meus, outro esta aqui. ” Mas se alguém disser: “O que eu tenho é suficiente para mim e não necessito de mais” ele não é um cristão, mas está iludido e se tornou um instrumento do diabo. Em função da sede de Deus ser insaciável, quanto mais alguém experimenta os dons espirituais mais ele se torna sedento deles. Essas pessoas têm um amor flamejante e irrepreensível perante Deus. Quanto mais elas adquirem e são bem sucedidas, mais elas vêm suas pobreza.

O bem aventurado diádoco.

Quem ama a si mesmo não pode amar a Deus plenamente e apenas quem não ama a si mesmo por um profundo amor a Deus pode realmente amá-Lo. Tal pessoa jamais deseja a glória para si mesmo, mas apenas para Deus e é natural que ele procure apenas a glória de Deus e tenha prazer na humildade em relação a si mesmo, porque a glória é apenas de Deus, por sua grandeza, e a humildade pertence ao homem.

São Elias o Ekdik

Se alguém pensar alto de si mesmo não nota as suas faltas, então o humilde não nota as suas boas qualidades. As faltas do primeiro são obscurecidas por mau desconhecimento e as do último, por um que agrada a Deus.

Um mercador não o pode ser sem ouro, mesmo que seja o mais capacitado; portanto um homem que se dirige ao ascetismo sem humildade não verá o fruto da virtude do bem, não importa o quanto ele se baseie em sua razão.

Diferentes anciãos.

Se você vir um jovem vivendo por sua própria vontade e valentemente ascendendo ao céu, pegue-o pelos pés e puxe-o de volta à terra, porque sua ascensão será prejudicial a ele.

O sucesso espiritual de um homem é medido por sua humildade. Quanto mais ele é imerso em humildade, mais ele voa alto em suas virtudes.

Eu prefiro o pecador arrependido ao não pecador e não arrependido. (Abba Pimenos)

O humilde sequer mostra a língua censurar alguém de não ter cuidado ou ser negligente. Ele não tem olhos para ver as faltas dos outros e não tem ouvidos para ouvir a condenação de alguém. Ele está preocupado apenas com os seus próprios pecados (Abba Isaías).

São João Cassiano.

A sétima batalha a ser pensada é a contra o espírito de vaidade, essa variada, mutável e súbita paixão, freqüentemente difícil de discernir e de reconhecer e contra a qual é difícil guardar-se. Outras paixões têm uma só aparência, mas esta é diversa, e assalta o guerreiro de Cristo por todos os lados, quando ele ainda está lutando e quando ele está perto da vitória. A vaidade tenta feri-lo de todas as maneiras possíveis: através de sua roupa, de seu caminhar, de sua estatura, de sua voz, de sua leitura, de seu jejum de sua reclusão, de seu conhecimento, de sua obediência, de sua humildade, de seu bom humor. Como uma pedra perigosa escondida debaixo da água, causa um rombo fatal quando os marinheiros finalmente a avistam.

Outras paixões murcham e se tornam mais fracas a cada dia que as confrontamos e superamos. Algumas se esgotam e se acalmam simplesmente porque alguém troca de condições de vida e de local. Igualmente, é mais fácil para nós as vigiarmos e evadi-las por causa de seus conflitos com as virtudes correspondentes. Mas a vaidade, quando contrariada, luta com nova fúria, e quando é considerada morta novamente renasce, recuperando sua saúde e força. Outras paixões apenas reinam sobre aqueles submetidos a elas, tentando com pensamentos sobre o sucesso, mas essa assalta os seus vitoriosos com nova ferocidade, tentando-os com pensamentos vaidosos sobre seu sucesso sobre ela, por isso o guerreiro cristão deve fere-se com os seus próprios dardos.

A oitava e última batalha é contra o espírito de orgulho. Esta é a última paixão em nossa interpretação, mas a primeira em sua origem. O orgulho é o animal mais feroz e indomável, que é especialmente ativo contra os perfeitos, devorando-os quando eles estão quase no ápice da virtude.

Portanto, devemos lutar pela perfeição, com jejum vigoroso, guardando a vigilância, um corpo e coração contritos e fazendo obras ascéticas, evitando o orgulho, que inutiliza nossos trabalhos. Devemos lembrar que é impossível chegar à perfeição por nossos próprios esforços, mas nossas obras e práticas espirituais não podem ser realizadas sem a graça de Deus.

São João da Escada.

O Senhor sempre mantém nossas virtudes escondidas de nós. Quando alguém nos glorifica, ou melhor, leva-nos à ilusão com o elogio, abre os nossos olhos, mas logo que esses são abertos o tesouro da virtude se foi.

O orgulho é como uma maçã podre por dentro e bela e brilhante por fora.

O orgulhoso não necessita de um demônio para tentá-lo; ele tornou-se um demônio para si próprio.

Para alguém vaidoso de seus dons, isto é, agudo de mente, bom entendedor, leitor habilidoso, articulador e dono de outras qualidades que não trabalhou para ganhar, os dons sobrenaturais nunca virão, porque ele é injusto e vaidoso.

Nenhum outro pensamento é tão difícil de confessar quando a censura de alguém ((que é causada pelo orgulho) e é por isso que alguns sofrem desses pensamentos até a velhice. Devemos saber que nada fortalece mais os demônios do que esconder maus pensamentos, quando os guardamos dentro de nós os damos mais forças.

Se o orgulho tornou alguns anjos em demônios, não há duvida de que a humildade pode fazer de demônios, anjos. Portanto, tenha coragem, mesmo que caia, coloque a sua esperança em Deus.

Algumas vezes acontece que não apenas os crentes são levados pelas paixões, mas também os descrentes, deixando apenas alguns para trás. O primeiro é o mal primário e tem a capacidade de substituir todos os outros, tornando-se tão prejudicial a ponto de retirar alguém do próprio céu-isto é o orgulho.

Muitas vezes Deus deixa algumas pequenas paixões em pessoas de forma que, ao perceberem sua debilidade, eles aproximam-se Dele, enriquecendo-se em humildade.

Como os pobres, quando vêem os tesouros do rei percebem mais agudamente a sua pobreza, o mesmo faz a alma, lendo sobre as virtudes dos santos pais, se faz, sem querer, mais humilde em seus pensamentos.

Aquele que é fraco no corpo e cometeu uma série de pecados, deve seguir o caminho da humildade e das virtudes próximas a ela porque, para ele, não há outra forma de salvação.

Quando o demônio do orgulho dominou firmemente o bastante a seus servos, então ele aparece em seus sonhos ou abertamente, na imagem de um anjo ou santo e revela supostos mistérios a eles, então os suscetíveis, iludidos, perdem o resto de sua razão.

Os Anciãos Barsanuphius e John.

Vamos sempre praticar a humildade, porque o humilde está sobre a terra e como pode cair em qualquer lugar? Aquele que está no alto pode facilmente cair. Se revisarmos e melhorarmos nossos caminhos, e isso não é nosso, é dom de Deus, porque ” O senhor levantou os caídos e abriu os olhos os cegos” (Salmos 146:8).

Uma pessoa deve-se considerar mais pecador do que todos os pecadores e, não tendo nada de bom, repreender a si mesmo muitas vezes, em qualquer lugar e por qualquer coisa.

Sobre a questão de argumentar contra os pensamentos que nos aflijem,eu responderei: não argumente, porque isso é exatamente o que os nossos inimigos desejam que façamos e vendo-nos respondendo, não cessarão de nos atacar. Ao invés disso, reze a Deus, exponha a sua fraqueza ante Ele, e Ele irá ajudar a expulsar e varrer completamente esses pensamentos.

São Isaac, o Sírio.

Como um antídoto ao sentimento súbito de vaidade, confesse sinceramente sua fraqueza e ignorância a Deus em oração, para não ser abandonado por ele e tentado por desejos impuros, pois a fornicação sempre segue o orgulho.

A virtude é a mãe da piedade e esta carrega a humildade, que é glorificada pela graça. O prêmio em segui-la é dado não pela virtude e não pelos trabalhos feitos, mas pela humildade que vem através deles. Se faltar a humildade, todas as virtudes são vãs.

O humilde é livre de pressa, confusão, pensamentos ferventes ou vazios, ele sempre está em paz. Nada pode admirá-lo, embaraçá-lo ou aterrorizá-lo, pois ele já é um espírito temeroso e humilde na piedade, não levado pela maravilha da alegria, mas sua única alegria é glorificar seu mestre.

Não se apóie em sua força, então Deus não lhe deixará cair por sua fraqueza e você aprenderá por uma experiência amarga.

Se alguém aborrece a Deus em algo e não fica estável, depois de passar pelo infortúnio, ele aprenderá a humildade. As honras fogem daquele que as persegue, mas estas correm de quem se esquiva delas. Um homem que alcançou o conhecimento da fraqueza alcançou a perfeição da humildade.

Os genuinamente corretos sempre se consideram indignos de Deus. E aqueles que são corretos vêem a si mesmos como prejudicados e não merecedores da misericórdia de Deus, declarando isto secreta e abertamente, iluminados pelo Espírito Santo. Eles são encorajados a pensar dessa maneira pelo Espírito Santo, para permanecerem trabalhando e no caminho estreito enquanto estiverem no mundo. Deus preparou o seu descanso quando eles vierem a Ele. Portanto, em todo aquele que Deus habita não há a vontade de viver sem tristeza, embora às vezes uma consolação espiritual mística lhes é fornecida.

São Simeão o Novo Teólogo.

Quando alguém, rebaixado ou molestado, se ressente fortemente em seu coração, pode-se ter a certeza de que ele carrega a antiga serpente (orgulho) em seu interior. Se ele enfrenta silenciosamente, ele enfraquecerá e paralisará a serpente, mas se ele responder agressiva e violentamente, ele fortalecerá a serpente com mais veneno em seu coração e esta consumirá suas entranhas sem piedade. .

São João de Kronstadt.

O mais que vocês possam, sejam mansos, humildes e simples com todos, considerando a si mesmos, sem pretensão, o menor, o mais pecador e fraco de todos. Diga a si mesmo: “Eu sou o primeiro dos pecadores. ” O orgulho produz pompa e um frio e fingido tratamento para com os outros.

Seja atento com as manifestações do orgulho: ele vem sem avisar, especialmente quando você se aborrece com os outros por assuntos irrelevantes. Se você deseja ser humilde, considere-se merecedor de qualquer tipo de malícia e abuso dos outros. Não fique irritado quando eles o acusam ou abusam de você. Apenas diga: “Ó meu Santo Pai. Não porque eu quero, mas por sua vontade. ” Lembre-se que o Salvador disse: “O servo não é maior do que o seu senhor. Se eles me perseguiram, irão perseguir vocês. . . se o mundo odeia vocês, ele me odiou primeiro” (João 15:20, 18).

Lembre o que diz a Sagrada Escritura: “Não seja vencido pelo mal, mas vença o mal com o bem” (Rom 12:21). Quando alguém é rude com você, quando você for tentado, quando te falam com raiva, não retorne da mesma maneira, mas seja silencioso, manso e benigno, respeitador e amoroso com aqueles que se comportam mal em sua frente. Porque se você se perturbar e retornar as suas palavras sem paz, se você responder com rudez e desdém, significa que você foi vencido pelo ma e deveria aplicar a si mesmo o seguinte “Médico, cura a ti mesmo” ou “Porque te preocupas com o cisco no olho do teu irmão, mas não vês a trave no teu olho?. . . Primeiro tira a trave do teu próprio olho” (Lucas 4:23, Mateus 7:3-5). Tenha pena dos que lhe insultaram, porque é fácil ser conquistado por suas próprias paixões e ter a alma doente. Quanto mais alguém é rude e abalável, mais amor ele deve receber, isso irá facilmente vencê-lo. Deus é sempre mais forte do que o mal, portanto vitorioso. Lembre-se, também, que todos nós somos muito fracos e facilmente vencidos pelas paixões. Por causa disto, seja manso e condescende com todos os que pecaram contra você. Você tem a mesma doença de seu irmão. Perdoe os seus devedores assim como o seu Pai Celestial perdoa as suas dívidas.

Você não quer rezar por alguém que deprecias, mas esta é uma razão verdadeira para rezar. Por isso você deve procurar o médico, porque você está doente com raiva e orgulho, justamente como aquele a quem deprecia. Reze para que Deus lhe ensine mansidão e paciência e Ele lhe dará força para amar os seus inimigos e não apenas os amigos. Ele lhe ensinará a rezar sinceramente pelos amigos e pelos inimigos.

O Ancião Siluano.

Se a sua mente quer rezar no coração e não pode, leia a prece com seus lábios e deixe a mente com as palavras da oração. Com o tempo, o Senhor lhe concederá a oração sem palavras e você rezará em paz. Alguns prejudicaram seu coração tentando rezar com a mente no coração e terminaram não sendo capazes nem de rezar com a boca. Mas você pode ordenar a sua vida espiritual: os dons são concedidos aos simples, às almas humildes e obedientes. Para aquele que é obediente e temperado em tudo: na comida, na fala, nos movimentos, o Próprio Senhor lhe concede a oração e a paz em seu coração. A oração incessante vem com o amor é perdida pela condenação, conversas vazias e intemperança. Qualquer um que ama a Deus pode pensar Nele noite e dia, porque nada impede alguém de amar a Deus.

Aprender a humildade de Cristo é uma grande benção. Quando você a tiver, a vida se torna pacífica e alegre e tudo é prazeroso para o seu coração. Deus se revela no Espírito Santo apenas aos humildes e se não nos humilharmos, não veremos Deus. A humildade é a luz pela qual podemos ver a Luz-Deus, como é cantado “Nessa luz veremos a Luz. ”

O Senhor ama as pessoas, mas Ele manda-lhes problemas para que aprendam de sua fraqueza e se tornem humildes e recebam o Espírito Santo, e com Ele tudo está bom, alegre e belo. Sofre-se muito pela pobreza e doença, mas se alguém não se humilha, está sofrendo em vão. Alguém que se humilha contenta-se com qualquer destino, porque o Senhor é sua saúde e alegria e todo o povo se maravilhará com a beleza de sua alma.

Você dirá: eu tenho vários problemas. Mas eu, ou melhor, o próprio senhor dirá: humilhe-se e você verá seus problemas tornarem-se um descanso, então você ficará surpreso e dirá: por que eu sofri e me lamentei tanto antes? Mas agora eu regojizo-me, porque me humilhei e a graça de Deus veio e, agora, sentado na pobreza, essa graça permanecerá com você, porque você tem a paz na alma, a paz que o Senhor citou: “Deixo a minha paz para vocês. ” Portanto, para cada alma humilde, o Senhor dá a sua paz.

Há muitos tipos de humildade. Um é a obediência que sempre se condena, e isso é humildade. Outro tipo arrepende-se de seus pecados e considera-se indigno diante de Deus e isto também é humildade. Mas aquele que conhece a Deus através do Espírito Santo tem outro tipo de humildade, de conhecimento e sabor diferentes. Quando a alma vê o Senhor no Espírito Santo, o quando Ele é manso e humilde, ela mesma se humilha e este é um tipo muito especial de humildade, que não pode ser descrito, apenas concedido pelo Espírito Santo. Se as pessoas pudessem, através do Espírito Santo, saber como Deus é, tudo seria mudado: os ricos esqueceriam seus tesouros, os eruditos suas ciências, os juízes seu poder e glória e todos se humilhariam e viveriam em uma grande paz e amor, uma grande alegria dominaria a Terra.

Ancião Paisios Eznepidis.

O ancião Paisios cosiderou a humildade a pedra angular da vida espiritual cristã. Ele disse: “Deus ama muito a todos, conhece os problemas de cada um perfeitamente e deseja ajudar antes que o peçamos, porque nada é difícil para o todo poderoso. Mas mesmo Deus enfrenta a dificuldade no caso do homem não humilde. Eu repito que há apenas um problema que Deus não pode enfrentar, Ele não pode ajudar as almas que não são humildes. Então Deus fica desapontado, vendo sua criação torturada e Ele não pode ajudar porque o que ele pede irá machucar a pessoa, aquele que não tem um a disposição humilde. Tudo o que nos acontece é absolutamente dependente de humildade. Vemos, por exemplo, que alguém é conquistado por certa paixão. Deus permite isso porque sua alma pode ter o pensamento de aceitá-lo (isto é, tem o pensamento voltado para o orgulho). Um homem pode odiar certas paixões e não querê-las e mesmo derramar sangue para se livrar delas, mas não será bem sucedido porque Deus não o está ajudando. E Ele não ajudará, até que ele se humilhe (porque, embora ele odeie algumas dessas paixões, ele ainda é escravo do orgulho, que leva a outras paixões).

Para progredir espiritualmente, deve-se pedir por amor, oração, sabedoria, obediência e outras virtudes de Deus. Mas Deus quer ser entendido (por favor, note bem isto) , de que Ele não nos dará nada do que pedirmos, por mais que trabalhemos, se não nos humilharmos em primeiro lugar. E quando a humildade é nosso único objetivo, Deus dá o restante de graça.

Deus deseja apenas uma coisa de nós, humildade e nada mais. Ele deseja ajudar-nos com a Sua divina graça que Ele, mesmo antes de começarmos a amá-Lo, antes de fazermos qualquer esforço, nos deus no Santo Batismo. A graça nos acompanha ao amor de Deus e ao seu conhecimento. Deus faz tudo por nós, só devemos ter humildade, não resistir à graça divina, deixá-la agir. Só resistimos quando não temos humildade, e apenas uma coisa resiste à graça divina, o orgulho.

O ancião de Optin Barsanuphius Plekhankov.

Para ser ligado a Deus o seu humano deve obedecer todos os seus santos mandamentos, mas se olharmos atentamente para eles notaremos que não obedecemos a um deles. Vamos passar através de todos eles e veremos que apenas tocamos esse mandamento e já passamos para outro, e o mandamento de amar os nossos inimigos tem sido completamente esquecido. O que foi deixado para nós, pecadores? Quem deverá ser salvo? Não há outra maneira, através da humildade. “Senhor, eu pequei em tudo, eu não tenho nada de bom, sua misericórdia infinita é a minha única esperança. ” Somos verdadeiros fracassados diante de Deus, mas por causa da humildade ele não se desviará de nós. Ao contrário, é melhor ter muitos pecados, considerar-se um grande pecador do que ter algumas glórias e ser orgulhoso delas, achando-se correto. O evangelho dá dois exemplos, o do Fariseu e do Publicano.

São Teófano o Recluso.

A simplicidade é uma característica necessária da humildade, e não pode haver humildade quando falta a simplicidade. A simplicidade não é falsa, suspeitosa, suscetível, não rotula ninguém, não tenta ser sábia. . . Tudo isso significa humildade. A característica da humildade é sentir-se uma nada e tudo que eu tenho pertence a Deus. . .

Você está dizendo que o espírito da vaidade está atacando você. Seja cuidadoso. Essa serpente tem muitas cabeças, algumas vezes ela até usa a imagem da humildade. . . A vaidade é súbita, mas amaldiçoa a alma. E o Senhor rapidamente retira sua graça daqueles que encorajam vãos pensamentos, deixando-os cair.

O orgulho é a paixão mais fatal que parece pura por fora. Já que os anciãos falaram-lhe sobre humildade em sua infância significa que Deus quer que você seja humilde por si próprio. Ele está pronto para dar-lhe humildade, se você lutar por ela. . .

(Sobre a virtude da Humildade.
Escrito pelo Bispo Alexander (Mileant)
Traduzido pela Dra Rosita Diamantopoulos)
http://www.fatheralexander.org/





Conclusão sobre a essência da Humildade

9 04 2013

São Soluane

São Soluane


O Bispo Alexander conclui seu pensamento sobre a humildade com esse belo texto:
Esta foi uma breve demonstração do estado humilde da mente e da alma como descrito nos escritos dos Pais. Como pode ser visto, não tem nenhuma relação com a vulgaridade, nem pode ser confundida com a auto-humilhação. Uma pessoa humilde vê suas imperfeições e sempre se volta para a ajuda de Deus, reconhecendo-o como o seu Juiz e obedecendo-o em tudo, submete-se a Sua vontade e faz o melhor de si para abster-se do pecado. Estando sempre ocupado em melhorar, o humilde não nota os erros dos outros e está sempre pronto a perdoar. Ele aspira à perfeição, ficar próximo de Deus e seu mais importante objetivo é glorificá-Lo.

Ninguém está totalmente livre de ter uma opinião exagerada sobre si mesmo. A sede de reconhecimento, a intenção de atrasar o sucesso de alguém, o desejo de instruir e comandar são traços negativos que requerem correção, são passos direcionados à vaidade e ao orgulho, que fazem do homem desagradável para a sociedade e repulsivo aos olhos de Deus.

A disposição humilde é a mais saudável e natural. Quando alguém se aproxima de Deus direcionando a sua mente corretamente, ele sente o toque de Sua graça na oração e percebe perfeitamente sua pequenez e imperfeição. O orgulho é o resultado de uma noção exagerada de si mesmo e de suas habilidades, originado da cegueira espiritual, quando alguém se encerra em si mesmo e falha em perceber a Deus.

A fé cristã nos chama a sermos modestos e humildes, aceitando que tudo de bom em nós não é nosso e pertence a Deus. Realmente, tudo vem de Deus: nossa vida, o belo mundo ao nosso redor, nossa saúde e os vários talentos e vantagens que apreciamos. Pela nossa fé, para o perdão de nossos numerosos pecados, para a libertação de perigos desconhecidos, para bênçãos cheias de graça, para os caminhos imperceptíveis pelos quais a Sua providência nos leva ao Seu Reino, por tudo isso e muito mais, devemos sempre ser gratos ao nosso Pai Celestial, que nos dá toda a Sua bondade através de Seu único filho, que morreu na cruz por nós, pecadores. Se não impedirmos Deus de nos salvar, estaremos todos no Céu. É nossa teimosia e orgulho que nos destroem!

Portanto, a humildade é a pobreza preciosa que leva à escalada das virtudes, enriquecendo com dons espirituais e, finalmente, colocando o homem na entrada do Reino do Céu.

Vamos completar esse trabalho com um elogio à humildade do Ancião Siluano:

A alma de um homem humilde é como o mar: quando você joga uma pedra no mar, ele perturbará sua superfície por um momento e a jogará imediatamente para a sua profundidade.

Assim é o desgosto jogado no coração do humilde, porque o Senhor está com ele.

Onde habitas, alma humilde, e quem habita contigo e o que pode parecer-se contigo?

Tu és iluminado como o Sol, mas tu não queimas e tira seu calor para longe dos que estão perto de ti.

Tu és a terra da mansidão, de acordo com a palavra do Senhor.

Tu és como um jardim florescendo, com uma bela casa ao fundo, onde o Senhor gosta de estar.

O Céu e a terra te amam.

Os santos Apóstolos, os Profetas, os Hierarcas e os Ascetas te amam.

Os Anjos, os Serafins e os Querubins te amam.

A Mãe de Deus, a humilde, te ama.

O próprio Senhor te ama e alegra-se por causa de ti.
A pobreza

que enriquece

(Sobre a virtude da Humildade.
Escrito pelo Bispo Alexander (Mileant)
Traduzido pela Dra Rosita Diamantopoulos)