Os monges e os demônios

25 07 2013
Monge Cartusiano

Monge Lectio Divina

O arsenal dos demônios se distingue por sua abundância e sua diversidade. A arma que habitualmente usam são os logismoi, os “pensamentos“, as vezes bons em si, mas em geral maus e perversos. O demônio não dá as caras, se esconde detrás dos maus impulsos que estão dentro do homem – e ainda detrás dos bons – e se serve deles insidiosamente para corrompe-lo. Segundo nossos mestres, é esta a única maneira de atacar aos mongesnovatos. Assim, logo que Antão abandonou o mundo, pretendem faze-lo retroceder recordando-lhe os bens que deixou, o cuidado que deve ter com sua irmã, seus afetos familiares, os prazeres da vida e a dificuldade da virtude. Como se vê, estes pensamentos não são precisamente maus, e por isso resultam mas temíveis. Mas se servem também os demônios de outras tentações realmente brutais, como pensamentos de luxúria, particularmente indicados para vencer aos jovens. São os oito logismoi ou “vícios capitais”, como os chamará Cassiano.

Outras armas importantes nas mãos dos demônios são as visões e alucinações, que sabem usar quando fracassam os logismoi. O demônio aparece sob uma das formas enganosas que mencionamos acima e outras similares. São as tentações mais conhecidas dos anacoretas e têm por fim excitar aluxúria, a gula, o medo, etc. Uma terceira categoria está constituída pelas formas piedosas ou sobrenaturais que as vezes adota o Tentador. Parapoder enganar ao solitário, os diabos são capazes inclusive de sustentar conversações espirituais, cantar salmos e citar a Escritura.

(Téofano, o Recluso – Conselhos aos Ascetas)

 





Sobre a Paz (Apoftegmas)

17 02 2013

 

Monges Cartuxos

Num dia, um noviço resolveu renunciar ao mundo. Disse ao ancião: «Quero ser monge.» O ancião respondeu: «Não conseguirás.» E o outro: «Conseguirei.» O ancião disse: «Se realmente queres, vai, renuncia ao mundo e depois vem morar em tua cela.» Ele foi, doou o que possuía, guardou para si cem moedas e retornou ao ancião. O ancião lhe disse: «Vai morar em tua cela.» Ele foi. Enquanto lá estava, seus pensamentos lhe disseram: «A porta está velha e deve ser trocada.» Foi, e disse ao ancião: «Meus pensamentos me dizem: A porta está velha e deve ser trocada.» O ancião lhe respondeu: «Ainda não renunciaste ao mundo; vai, renuncia ao mundo e depois volta aqui.» Ele foi, doou noventa moedas, guardou dez e disse ao ancião: «Eis, renunciei ao mundo.» Disse-lhe o ancião: «Vai, habita tua cela.» Ele foi. Enquanto lá estava, seus pensamentos lhe disseram: «O teto é velho e deve ser refeito.» Dirigiu-se ao ancião: «Meus pensamentos me dizem: o teto é velho e deve ser refeito». Disse-lhe o ancião: «Vai, renuncia ao mundo.» O irmão foi, doou as dez moedas e retornou ao ancião: «Eis: renunciei ao mundo.» Enquanto estava em sua cela, seus pensamentos lhe disseram: «Tudo é muito velho, virá um leão e me devorará.» Expôs esses pensamentos ao ancião, que lhe disse: «Eu gostaria que tudo caísse encima de mim e que um leão viesse devorar-me, para ser libertado desta vida. Vai, habita tua cela e reza a Deus.»(Padres do Deserto)